Num quadro em que não há notícia de outras candidaturas a Reitor para além do actual (estando a questão prática da sua reeleição resolvida quaisquer que sejam os resultados eleitorais), o exercício deste meu mandato de conselheiro demonstrou-me a que ponto é importante que o Conselho Geral possa assumir, de forma efectiva, as suas funções de escrutínio e controlo do exercício do poder reitoral. 

De facto, são claras e recorrentes a tendência sistémica, a tentativa e a praxis das chamadas “listas do reitor” para transformar a actividade do Conselho Geral numa liturgia de anuência relativamente a tudo o que venha da reitoria, ou envolva autoridades académicas que a sustentem. 

E quando digo “tudo”, refiro-me tanto às várias acções e decisões positivas e louváveis, quanto a coisas como a repressão policial de estudantes, o bloqueio a inquéritos sobre assédio, a inação estratégica para com a precariedade e incumprimento da lei, a naturalização de abusos de poder, os offshores laborais, ou o encher escolas de monitores e similares, em vez de contratar docentes. 

Pude verificar, na prática, que essa cultura de subserviência e falsa solidariedade académica (com um carácter sistémico e não decorrente do grau de bondade ou maldade de cada pessoa) é não apenas eticamente incorrecta, mas também institucionalmente negativa, restringindo a acountability e contribuindo para reproduzir fragilidades e erros (em vez de contribuir para os superar), quando não para criar ou ampliar vulnerabilidades. Em suma, presta um mau serviço à Universidade e ao próprio Reitor.

Se isto era um problema num Conselho Geral para o qual foram eleitos/as colegas de três listas, imaginem num de lista única, ou num Conselho Geral em que fosse residual a representação de colegas independentes dos poderes instituídos, livres para exercer o espírito crítico construtivo e (tal como é sua função) escrutinar, corrigir e propor soluções!…

É por isso que considero fulcral que, qualquer que seja a pessoa que se sente na cadeira de reitor, seja eleito o máximo de colegas (se em maioria, melhor…) em posição de exigir mais e melhor da nossa Universidade e de, em vez de procurar varrer para baixo do tapete efeitos perversos de serôdias dependências e hábitos do passado, contribuir e estimular a construção de futuro, em transparência, dignidade e decência.

Uma razão suplementar para me empenhar como candidato pela Lista U é a necessidade e importância (diria evidente, devido à sua dimensão, especificidade e historial de desrespeito até por parte de um anterior Reitor) de que, entre tais conselheiros activos e construtivos, haja representação do ICS, disposta a defendê-lo até onde for necessário. E que ela não seja tolhida por incompatibilidades de cargos.

Paulo Granjo
Conselheiro da ULisboa
Investigador do Instituto de Ciências Sociais

Categorias: Testemunhos

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